quarta-feira, 9 de novembro de 2022

O ARTISTA DE GÊNERO - Carlo Rotella sobre Jack Vance

 

O ARTISTA DE GÊNERO

The Genre Artist - Carlo Rotella (2009)

Original:

https://www.nytimes.com/2009/07/19/magazine/19Vance-t.html

Traduzido por Marcelo Rabello dos Santos (out. 2022)

Jack Vance, descrito por seus pares como autor genial e o maior escritor vivo de ficção científica e fantasia, está escondido à plena vista enquanto publica – seis décadas e contando (Nota do tradutor: Jack Vance faleceu em 2013). Sim, ele foi premiado com o Hugo, o Nebula e o World Fantasy, foi nomeado Grão-Mestre pela Science Fiction and Fantasy Writers of America e recebeu um Edgar da Mystery Writers of America, mas tais honrarias somente contribuem para camuflá-lo, como se Vance fosse apenas mais um bem-sucedido autor de nicho. Também contribuem para esta ocultação as capas de seus livros, recheadas de clichês – espaçonaves, monstros e eufônicas designações de localidades: Lyonesse, Alastor, Durdane. Se você nunca leu Vance e está vasculhando a prateleira de uma livraria, pode não ter nenhum motivo específico para escolher um de seus livros ao invés daqueles de A. E. van Vogt ou John Varley. E se você escolhesse alguma dessas outras obras, seguiria por tranquilamente pelos caminhos habituais da FC sem ter a menor ideia de que acabou de perder um encontro com uma das vozes mais distintas e desvalorizadas da literatura estadunidense.

quarta-feira, 2 de março de 2022

LUZ DE OUTRA DIMENSÃO – LLOYD BIGGLE JR.

             Antigos pensadores postulavam que a arte era o marcador da diferença entre o humano e o animal. Era o exercício da arte – intermediado pelas musas – que aproximava a humanidade da esfera divina, afastando seus praticantes da bestialidade. Mas como reagiriam os que pensam assim se encontrassem, em outros mundos, criaturas fisicamente semelhantes aos animais, mas dotadas de sensibilidade estética?

            Essa é questão de fundo proposta por Lloyd Biggle Jr. em Luz de Outra Dimensão (Hemus, 1981). Nessa obra, encontramos a humanidade espalhada por diversos planetas, muitos deles habitados por espécies inteligentes nativas chamadas depreciativamente de “animalóides”. Entretanto, quando as recentes populações humanas destes mundos distantes começam a descobrir os dotes artísticos dos “não-humanos”, o resultado é o assassinato em massa das populações "animalóides" nativas.

domingo, 13 de fevereiro de 2022

A MÃO ESQUERDA DA ESCURIDÃO: NOTA SOBRE LE GUIN E FOUCAULT

            Acabei de reler minha velha edição, publicada pelo Círculo do Livro em meados de 1985, de A Mão Esquerda da Escuridão (1969), de Ursula K. Le Guin. Aliás, bela edição, com boa tradução e capa dura, que vem sobrevivendo galhardamente aos maus tratos que impinjo aos meus volumes. Não abordarei aqui este texto como precursor das questões contemporâneas de gênero e sexualidade – o que certamente é! – , já que outras e outros o fazem bem melhor do que seria capaz (como aqui: https://www.momentumsaga.com/2022/02/resenha-a-mao-esquerda-da-escuridao-de-ursula-le-guin.html ). Em vez disso, pretendo apontar um outro eixo essencial da obra, aquele que diz respeito aos contrastes que Le Guin cuidadosamente estabelece entre duas nações do planeta ficcional Gethen, Karhide e Orgoreyn, com o objetivo de investigar e criticar fenômeno da Modernidade aqui da Terra.